CONEXÃO N.Y.
Paulo Grillo
Mea-culpa: um roteiro da noite de NY
Ok, faço aqui uma mea-culpa. Não faz muito tempo, escrevi um texto e espinafrei, ainda que educadamente, a noite de Nova York. Em parte tinha lá meus motivos - pois nem tudo o que disse, retiro. Agora, tudo bem, é hora de acertar os pontos com a noite daqui. Afinal, seria injusto da minha parte viver o lado ruim e contar, enquanto o que tem de bom eu deixar guardado só para mim.

Parte daquela crítica se resume ao que explicou um dos comentaristas: de repente, eu havia estado no lugar certo, mas no dia errado, a gente sabe que a noite tem dessas coisas. É verdade. Eu havia estado na Splash, ou tambem SBNY (como preferirem) e minha impressão foi péssima. Não gostei da música, do lugar, da gente... As regras sobre a bebida (consumo até determinado horário)e cigarro (só do lado de fora) contribuíram - e muito - para que eu definitivamente batesse o martelo: ia levantar publicamente a bandeira de que a noite de NY é ruim.
Aí eu fui à Avalon uma vez. Gostei. Fui outra, fui outra. Roxy, também. Lembrei-me da X-Demente. Um barzinho desses alternativérrimos, bem a imagem que temos de NY, também fui. O tal se chama The Cock. E pronto, se gastei tanto dinheiro saindo - pois para os créditos, é bom deixar claro: a noite em NY é sempre cara! - isso significa que é hora de explicar-me publicamente. Ou melhor, não deixar que, um dia, algum amigo que venha para cá e me recuse um convite para a night, achando que eu vou encher o saco.
Fica aí, então, um roteiro e as dicas:

Sexta: O dia é bom para ir à Splash. A entrada custa 15 dólares, mas pode ser que o segurança vá com a sua cara e você entre de graça. Levar o passaporte brasileiro é essencial, por dois motivos: 1 - Podem te pedir ID. 2 - Ele pode ser o segredo para que entre de graça (a fama de que os brasileiros são sexy rola de verdade e isso pode se reverter em bônus nas suas saídas). Lá dentro vai estar razoavelmente cheio e uma gente bonita, mas não a melhor opção para quem gosta de teens. Para animar há um house beirando o psicodélico, e se você gosta de beber, uma Absolut Citron on The Rocks custa US$ 8 no bar (geralmente vai te custar US$ 9 ou US$ 10, porque é educado que você dê alguma gorjeta para o bar-man). O clima é apimentado pelos go-gos, mas não chega a ser o lugar ideal para que você tire a camisa, ou exagere nos aditivos, de modo que fique bem alto, ou coisa do gênero: a Splash não sugere uma noite dessas de perdição, mas sim uma night para azarar, se você estiver a fim de se dar bem. Bom, mas dizendo isso, há que vir o adendo: a azaração em um meio americano é um tanto quanto fria, se comparada com a nossa. Não espere demais então, ok?
Sábado: No Rio, eu me lembro, havia o povo da X-Demente e o da BITCH. A Roxy, noite mais badalada do sábado, é definitivamente para o povo da X-Demente. O DJ residente é o Peter Rauhofer, que, quem se lembra, já tocou em uma X de carnaval no Rio. Às vezes, outros DJs tocam, mas a estampa da boate não vai mudar: você vai escutar aquele house meio X-Demente, que a gente conhece. Lá você pode esperar uma noite mais com cara de Rio. Vá de regata, ou blusa cool, nada muito social, senão vai destoar. Se quiser tirar a camisa, tire, se quiser beber demais, beba, se quiser dançar no queijo, à vontade, ou ainda, escolha a Roxy para fazer o que é proibido. Por lá, não tem muito essa de auto-controle. Há muita gente bonita - e me fazendo lembrar algo da noite do Rio - os corpos estão bem mais em evidência, seja pela quantidade de homens sem-camisa, seja pelo tipo duble de Madonna que desfila com uma camisa tipo meia-calça-arrastão, com os peitos à mostra. Tudo muito natural. Se quiser conhecer gente, vá na parte de fora - fumódromo - que certamente aparece alguém para bater papo contigo. Se estiver enjoado do house, suba para uma salinha onde há um bar embalado por hits bem legaiszinhos, na linha Madonna, Britney, W. Houston, etc... A entrada custa US$ 15, mas varia depois de uma determinada hora. A história do passaporte é a mesma aqui: ele pode te trazer bônus (fale português com o host, ele vai adorar). E a bebida, na casa dos mesmos US$ 8, só fica disponível até às quatro da manhã. É bom se programar: na Roxy, às vezes, um drink pode fazer muiiita diferença.

Domingo: Este é um dia sagrado, dia de ir à Igreja. Mas nada de levar seus pecados para serem perdoados. Se por fora a arquitetura da Avalon te lembra uma capela, por dentro, não se engane, o clima é de hedonismo. Muita gente bonita, cool, em um espaço super bem estruturado, de modo que você nunca vai ter a sensação de estar dois minutos e conhecer o lugar todo. Há inúmeros corredores, escadas, ambientes, uma pista de dança central grande, com palquinho, lounges, fumódromo em um jardim na parte de fora... A acústica do lugar também é fenomenal. Você é capaz de sentir a vibração da música, o que é parte fundamental do clubbing. Lá você pode, se quiser, ficar mais à vontade, beber um pouco mais, não é que vá parecer um pouco out, como se estivesse na Splash, por exemplo. Aconselho inclusive a variar um pouco e deixar o bar-man de lado pelo menos dessa vez e pedir um drink à loura super simpática da pista de dança. Ela faz o drink que você quer, na medida em que quer. Depois que bebe chega até mesmo a ser divertido, porque, aposto, você vai se perder lá dentro. Agora, a parte ruim é que se for acompanhado, aí sim corre o risco de levar um perdido. A entrada custa US$ 20, mas é possível que entre de graça. O jeito é preencher uma ficha e esperar duas semanas, para que seu John Blair Card chegue. Com ele você tem descontos tanto na Roxy, quanto na Avalon (domingo, antes das onze, de graça).
Bares: E para quem não está muito na pilha de ir a uma boate, mas não dispensa uma saidinha, nem que seja a um bar, há inúmeras opções por aqui. Quem gosta de negros, latinos, para as meninas, o ideal é tomar o metrô e saltar na Christopher Street. Lá há um quarteirão inteiro a esse dispor, todos baratinhos, com entrada variando entre free e US$ 5. Se tiver na pilha de fazer um piercing, ou comprar um pornô - por que não? - lá também é o lugar. E sempre é bom ter à mão uma revista como a HX, que traz toda a programação da semana, caso esteja perdido. A revista é free e está nas ruas, naquelas casinhas de jornal americanas.
Então, dessa vez, tá combinado. A noite de NY vale a pena e não se fala mais nisso!