CONEXÃO N.Y.
Paulo Grillo
AMERICANISMO
Semana passada, o sentimento de americanismo por aqui foi aos céus com a historia do americano decapitado. Impressionante como é a leitura de mundo de grande parte das pessoas que moram aqui. Muito comumente trata-se os Estados Unidos da América como uma pessoa, em frases meio absurdas, como a que li estampada em muitos jornais: "Essa não é a América". Colunistas respeitáveis daqui defendem arduamente um sentimento nacionalista, baseado em uma idéia de que os Estados Unidos tem um caráter essencialmente bom e libertador do resto do mundo. O que acontece de podre e que sai daqui parece que simplesmente é descartado, quando se diz "isso não representa os Estados Unidos". Assim foi, por exemplo, com as tais fotos dos soldados americanos torturando os prisioneiros iraquianos em Abu Ghraib.
Claro que ha correntes dissidentes e que não concordam com essa simplificação do que é tão complicado como uma nação. Mas ha quem coloque a cara a tapa, principalmente as pessoas publicas, para vender uma idéia barata de Estados Unidos do bem. Vejo idéias estúpidas no Brasil, mas dessa linha, não me recordo de nenhuma.
Resumindo: o patriotismo daqui é bonito, claro, mas, às vezes, parece uma religião. E daquelas que cegam.
LULALÁ
Outra questão que se desenvolveu na semana passada foi à queda-de-braço entre o Lula e o chefe da sucursal do NY Times do Rio. Do lado daí, além desenvolvimento da historia, o mainstream, que cobriram os jornais, se colocou em discussão os hábitos do nosso presidente. Sei que estão rolando muitas piadinhas sobre isso, que paira no Planalto uma paranóia em torno dos copos que o presidente toma: nem mesmo água deixa de valer uma grande foto de primeira pagina. Houve também a bola levantada pela própria direção do NY Times que, ao se defender, colocou em cheque a liberdade de imprensa no país. Agora, do lado de cá, atentos, podíamos levantar, talvez, a mais relevante dessas questões: que diabos de ética na imprensa existe por aqui? A defesa do NY Times, para justificar a matéria grosseira que fez, foi pautar a questão por um lado que diminuía ainda mais o presidente. Tomaram as aspas do chamado líder mais importante do sindicalismo no país - berço do presidente - para criticá-lo. Tudo para levar a entender que mesmo a base eleitoral de Lula não estava satisfeita com o rumo que tomou o caso e com seu governo, de uma forma geral. Isso para um leitor americano. Para um brasileiro, essas aspas eram de um dos opositores do governo Lula hoje, o presidente da Forca Sindical Paulo Pereira da Silva. Mas isso o NY Times não disse.
Aí fica a pergunta: será que o NY Times só diz o que interessa a ele próprio? Faz jornalismo para seu próprio umbigo?
E CÁ PRA NÓS...
O NY Times é um jornal meio arcaico. Sabiam que o texto das matérias mais importantes começa na primeira pagina e continuam dentro do jornal? Não há chamadas na primeira página. O texto vai corrido e para se ler uma matéria de dentro precisa-se toda hora voltar à primeira pagina para não ficar perdido. É estranho, pouco pratico, podem acreditar.
MAIS CURIOSIDADES...
Pegando um atalho nessa linha de curiosidades, tenho uma que estou para contar há um tempo. Sem brincadeira, um em cada três comerciais da TV aberta americana é sobre remédios. Nada de moda, a indústria que parece ferver por aqui é a farmacêutica, bem diferente do Brasil.
E aqui entre a gente, não parece que tem a ver americanos e hipocondria?
PRA TERMINAR...
Nos comentários da penúltima coluna, um amigo perguntou sobre a discriminação dos imigrantes aqui. Se há? Ou não há? Como se comportam os americanos diante dos milhões de estrangeiros que vivem aqui? A pergunta que me fiz é como se comportam os nova-iorquinos (e não os americanos) em relação a nós?
O que me parece, é que, como a própria tradição da cidade sugere, Nova York recebe bem os cidadãos do resto do mundo, que vem para cá para trabalhar e montar casa, talvez, família. Não se pode esquecer que a cidade é um caldeirão de imigrantes e que em todo lugar daqui, há sotaques dos mais diferentes para o inglês, o que reflete bastante essa realidade de um monte de gente diferente falando, ou tentando falar, o mesmo idioma.
Para ficarmos em um exemplo, em uma volta que dei à noite pela cidade conheci gente do Afeganistão, Egito, Bangladesh, Polônia, México, Cuba, Coréia... Enfim, aqui há uma tradição enorme envolvendo a aceitação de imigrantes. A cidade é basicamente constituída a partir deles.
MAS...
Há fatos que podem restringir essa chamada 'aceitação', como, por exemplo, saber que a maioria destes estrangeiros ocupa os postos de trabalho ditos inferiores, por exemplo, atendentes, construtores civis, taxistas, entregadores de pizza... Aí sim, economicamente, podemos desconfiar que há segregação.
ÚLTIMA...
Não resisto a uma ultima curiosidade: Nova York foi comprada dos holandeses no século XVI por, acreditem, o equivalente a quarenta dólares. Não preciso dizer mais nada.
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