4.7.04

PARADA GAY NY: HORA H

CONEXÃO N.Y.
Paulo Grillo

PARADA DO ORGULHO GAY: A HORA H.



Uma revolução acontece em Nova York e dentro de pouco tempo o mundo não será mais o mesmo. É questão de poucos anos a instituição legal do casamento entre pessoas do mesmo sexo nos Estados Unidos e o efeito disso vai ser uma onda de ânimo nos demais países onde os gays hoje pensam e fazem muito pouco pelos seus direitos.

Uma estrutura forte e desenvolvida é a principal característica que apresenta esse grupo social nos Estados Unidos em relação ao mesmo grupo no Brasil, por exemplo. Aqui, os gays detêm uma espécie de `mini-estado` em função dos interesses que, até ontem queria chegar no fim do estigma que a homossexualidade é uma doença, e que hoje vai muito além: disputa com unhas e dentes o direito legal de os gays receberem o mesmo benefício a que têm direito os héteros. Uma imprensa especializada é uma das armas com que batalham os gays por aqui. A revista `The Advocate`, por exemplo, é a bíblia do ponto de vista daquilo que todo gay precisa saber a respeito do que já foi conquistado político e culturalmente pela `classe` e quanto ainda falta para se chegar a uma total paridade com os héteros. Desde inimigos no Congresso americano, até os bons efeitos do show de TV 'Queer Eye for The Straight Guy' no cinturão bíblico do meio-oeste americano, a revista é o exemplo do avanço da estrutura que dispõem os gays americanos para defender seus interesses; sem paralelos com o Brasil, que ainda engatinha na formação de mídia especializada no assunto e cujo maior ícone ainda é a G Magazine.

Algumas tentativas desse mercado no nosso país avançam pouco, sendo sua maior representatividade os sites da internet - sendo o Mix Brasil o top da linha. Mas isso é pequeno se comparado à infinidade de jornais e revistas que abordam as questões gays por aqui, como a Metro, ou o Village Voice.

O ponto que parece fazer surtir a diferença entre a organização dos dois grupos, no Brasil e Estados Unidos, é que aqui há uma disponibilidade de dinheiro muito maior voltada para o que venha ser pró-gay. Investimentos que se revertem em lucro, e não só material, mas ideológico. "Queer Eye for The Straight Guy" foi uma das grandes vitórias da comunidade gay dos EUA no ano passado porque foi um espetáculo em termos de audiência. Esse fato representa diretamente o reconhecimento dos gays como parte da cultura americana, assim como a família tradicional, assim como os hamburgueres. Não é à toa que na refilmagem de "The Stepford Wives" (um blockbuster por aqui) foi incluído um casal gay, na fábula da pequena urbe tradicionalmente americana, assim como tantos 'Will & Grace' e derivados estão por aqui.

Essa presença no cenário cultural é fruto do investimento dos, por assim dizer, mecenas gays, que gastam rios de dinheiro - que têm de sobra - em produtos que levam sua bandeira. E já sabem disso várias empresas americanas, como a Budweiser, por exemplo, que aplica dentro de sua companhia uma política de igualdade no tratamento e benefícios entre seus funcionários gays e héteros; as chamadas 'Gay Friendly Companies', com o objetivo de o consumidor pensar nisso ao comprar um produto. É uma troca justa e que parece funcionar, se levarmos em conta a maciça campanha que fazem os veículos especializados a favor das Gay Friendly.

Há inúmeros fatores que em conjunto fazem pressão suficiente e, mais importante, constante para que o barulho não cesse na porta dos ultra-conservadores. Que tal pensarmos, por exemplo, que aqui no verão passado foi eleito para a Igreja Episcopal Americana o primeiro bispo assumidamente gay; que o musical Hairspray - com um time de escritores gays - levou o Tony (e de quebra houve beijinhos ao vivo na TV, na entrega do prêmio); que as leis de sodomia aplicadas aos homossexuais foram derrubadas no estado do Texas com uma crítica tão forte dos legisladores que o casamento gay foi dado como a próxima conquista da lista?

Na Parada Gay de Nova York, no último domingo, entre um festeiro e outro, estava um representante dos Direitos Humanos colhendo fundos e distribuindo adesivos e pins com o objetivo de impedir que um projeto de lei do presidente Bush seja aprovado no Congresso, tornando ilegais mais de mil direitos adquiridos pelos gays nos EUA, entre eles o direito de visita aos parceiros, quando hospitalizados, e adoção de criancas por casais do mesmo sexo.

Diferentemente do Brasil, o cenário montado para uma pressão suficientemente forte com o objetivo de mudar a lei em âmbito federal (pois em Massachussets os gays já se casam) é exponencialmente mais favorável por aqui, porque, como vimos, não se fala de uma campanha pequena, uma vez ao ano, que perde os holofotes para as demais campanhas pequenas, que, no fim, malogram. Uma revolução acontece nos Estados Unidos e, aqui em Nova York, sua expressão dá essa certeza: para os gays daqui, essa é a hora h!

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