26.11.04

ENTREVISTA _ ROSANE AMARAL

POR TRÁS DA CENA _ rosane amaral
_ entrevista
_ Por João Felipe Toledo e Andre Garça

PARA O ALTO E AVANTE!


Rosane Amaral é conhecida pelo seu forte gênio, seu jeito durão e sem papas na língua... Mas de coração mole! Produzindo festas há bastante tempo no Rio, a produtora passou por várias fases. Seu início no meio underground foi marcado pelas Tea Dance/Discothecka que rolaram na Bunker e, surpreendentemente, abalaram a supremacia dos domingos na Le Boy por mais de um verão. Um belo dia, chegou na Bunker e a direção da casa tinha dado sua data (domingo) para outro produtor (Teo Alcantara). Foi um bafão! Mas Rosane logo fechou com a Mess (hoje, Sygno), ali ao lado. A cena em que sua door-drag distribuía flyers na porta da Bunker, deitada em cima de sua Blazer, é antológica. Confusões à parte, a produtora foi trabalhar na X-Demente, onde chegou a produzir a Together (X + TeaDance). Na mesma época tomou conta das Pool Parties no Clube Radar e bombou alguns after-hours pela cidade. A necessidade de ter sua própria festa fez nascer a R:evolution, que esse ano ganhou ares de festão, em duas edições de sucesso. Rosane Amaral não pára! Ao ser indagada sobre seu ritmo de trabalho ela sempre responde com a mesma cara de satisfação: "É o que eu faço melhor: festas!".

Confira o bate-papo que tivemos com a produtora:



[CC] Cite 3 momentos importantes que marcam sua carreira. Aquele acontecimento que mudou a direção de tudo, que deu outro gás, que lhe ensinou coisas...

O primeiro momento determinante de minha carreira foi a entrada no grupo JLC, um grupo de pessoas com uma criatividade fora do comum, que promovia festas temáticas no início da década de 90. Eles me fizeram entender o que era uma produção de verdade e me levaram para o mundo do teatro, do carnaval e, finalmente, para as festas eletrônicas. O segundo momento foi aquele que antecedeu minha primeira grande festa sozinha, pois senti na pele o que é ser responsável por toda uma equipe e ter contas no final para pagar. Ah, e o terceiro e melhor momento foi ver a minha primeira grande festa abarrotada de pessoas felizes, isso Credicard não paga meeeesmo!



[CC] Qual o conceito da sua festa, a R:evolution?

A R:evolution é uma festa que pretende atingir um dia todo tipo de público: "caretas", "gays", "modernos", todos convivendo em harmonia, pois o meu propósito é fazer da festa um momento sublime, onde todas as diferenças são esquecidas e tudo em que se pensa é a diversão. Enfim, uma grande confraternização, onde se tem ao mesmo tempo, boa música e uma decoração e iluminação que façam o público "viajar".



[CC] É a terceira edição da festa que acontece fora dos clubs. O que você acha que uma festa precisa para cair no gosto do público como acontecem com as ?label parties? como X-Demente e a BITCH?


Na minha concepção a harmonia dos fatores é responsável pelo sucesso da festa, ou seja, boa música, uma locação bacana, uma equipe de produção afinada e principalmente, um público fiel e animado.



[CC] Suas festas nos últimos anos foram marcadas pela presença da residente DJ Ana Paula. A R:evolution tem DJ residente no momento? E qual a importância em se ter um DJ residente?

Há algum tempo já estou revendo meu conceito de DJ residente, por isso, decidi inovar a cada edição da R:evolution dando oportunidade a novos talentos. Na verdade, foi isso que fiz há muitos anos atrás com a DJ Ana Paula e mais recentemente com o DJ Pedro Gaioto e com Rafael Calvente. Atualmente, aposto minhas fichas no DJ Bruno Rennó e também, com muito prazer, estou trazendo de volta a cena carioca o DJ Dudu Marquez. Além disso, a cada edição da R:evolution tenho trazido um DJ internacional inédito pro Rio de Janeiro, acho importante que o público fique antenado com as influências internacionais, assim foi com os DJ´s Tony Moran, Brett Heirichsen, Eric Cullenberg, DJ Tye, Orlando F e nesta edição, o residente da Allegria, Eddie Elias.



[CC] Na última edição da festa, o calor foi considerado um ponto negativo. O que te levou a escolher o galpão do MAM como locação para a festa e o que as pessoas podem esperar de upgrade para a edição do dia 27?

O Galpão do MAM é considerado um local nobre do Rio de Janeiro, bem localizado, de fácil acesso e onde já aconteceram excelentes eventos de música como o Free Jazz e o Tim Festival. O calor foi intenso sim mas isso ocorreu, primeiramente porque aquele sábado foi um dia de muito sol e especialmente quente. Além disso, o espaço estava realmente lotado, isso ninguém pode negar, não é? Para a edição do dia 27 o ambiente estará climatizado, as paredes de blindex foram totalmente retiradas, o que permitirá uma ampla circulação de ar e, além disso todas as falhas detectadas no dia 30 serão corrigidas, haverá mais caixas e mais bares. E, como a R:evolution a cada edição traz uma surpresa para o seu público, teremos um palco especial para o DJ, inédito no Rio, que sem dúvida surpreenderá o público.



[CC] O Rio é acusado constantemente de ter uma cena fraca. Quais fatores você citaria como responsáveis por essa má fama que a cena noturna carioca tem?

São vários os fatores. Num primeiro momento, é inevitável não se comparar o RJ a SP. Mas, a verdade é que sabemos que SP é uma cidade muito mais populosa, com mais investidores e sem a nossa praia! Sem dúvida as pessoas se jogam muito mais lá do que aqui. Além disso, infelizmente nossa prefeitura não incentiva a produção de festas de música eletrônica e ainda sofremos com a visão pouco lúcida e bastante radical do Ministério Público a respeito das drogas. Quem não se lembra da perseguição das "raves", do cancelamento da tão esperada Bunker Rave, enfim, os produtores sérios precisam se unir e fazer frente a esta visão deturpada das festas para que a cena noturna carioca possa se desenvolver de forma saudável.



[CC] Cite 3 coisas que não podem faltar numa festa para que ela seja perfeita?

Bom som, boa luz e decoração e um público fiel e animado!



[CC] Em relação aos clubs cariocas, qual DJ na sua opinião não anda deixando ninguém parado nas pistas? E aproveitando, qual é a melhor pista (club) carioca?


Em relação ao DJs, acredito que a cena carioca está bem servida. Temos diversos profissionais talentosos, cada um com um estilo próprio e um público alvo diferente, arrasando na sua pistinha. Acho que é bastante saudável sair na noite e poder escolher o que se quer escutar: house tribal, progressivo, eletro e por aí vai. Não há necessidade de citar nomes, já que como disse, cada DJ manda bem em sua vertente musical. Quanto aos clubes cariocas, é difícil responder... definitivamente acredito que as festas periódicas oferecem mais atrativos para o público do que qualquer casa noturna existente no Rio atualmente.



[CC] Quem faz a festa é o público, o produtor ou o DJ?

Sem dúvida, o público.


[CC] Qual o futuro da cena no Rio? Como você imagina o cenário em 5, 10 anos?
Atualmente no Rio há uma infinidade de festas acontecendo, festas para todas as tribos e preferências musicais. Na minha opinião, a tendência é que a concorrência no ramo de festas se intensifique ainda mais nos próximos anos, sobretudo em razão das pessoas considerarem que fazer festa é fácil e muito lucrativo. Mas, no final das contas, sabemos que apenas as festas boas conquistarão seu lugar no mercado, como numa espécie de seleção natural.



[CC] Quer dar um recado pros leitores? Falar alguma coisa? O momento é seu!

Queridos leitores, quero vê-los todos na R:evolution do próximo sábado, pois não existe nada na vida que me dê mais felicidade e realização do que vê-los se acabando na pista. Saibam que estou fazendo de tudo para proporcionar a vocês um momento único, uma festa especial com novidades e música de qualidade dentro de um ambiente de harmonia entre todas as tribos. Não se esqueçam de acessar nossa página www.revolutionparty.com.br para enviar suas sugestões, críticas construtivas, agradecimentos ou apenas para dizer um oi! Divirtam-se muito, muito obrigada pelo carinho e presença de todos nas edições anteriores e perdão pelas eventuais falhas.

9.11.04

POR QUE BUSH?

CONEXÃO N.Y.
Paulo Grillo

Por que Bush?



A reeleição de Bush filho aqui nos Estados Unidos não era o que o mundo esperava. Deu zebra, teve roubo, a pesquisa boca de urna deu Kerry - ninguém queria acreditar. Mas ele foi reeleito, e, dessa vez, sem qualquer margem de dúvida: ganhou pelo voto popular e pelos votos eleitorais.

Dá pra pensar que ninguém entendeu nada: tanto a história dos votos eleitorais vs. populares como sua própria reeleição. Afinal, foi ele quem deu o primeiro passo para a catástrofe que é o Iraque hoje. Ele mentiu, as armas de destruiçao em massa nunca apareceram. Há uma lista sem fim de argumentos que hoje qualquer um enumera pra fazer valer a opinião que não, ele não deveria ganhar um segundo mandato de presidente.

Mas a história aqui nos Estados Unidos é diferente. Como vimos na última quarta-feira, nada disso fez a menor diferença. Valeu mais foi o medo de que a América fosse mais uma vez atacada. A imagem do "xerife" foi fundamental para que ele ganhasse o passaporte de volta à Casa Branca.

Com o resultado, a gente percebe que os americanos votaram contaminados pelo medo. Pela necessidade do tal Commander-in-Chief. É essa a expressão que se usa aqui quando se fala do presidente. Foi o eco mais corriqueiro durante estes ultimos meses a suposta falta de habilidade de Kerry para ser um "comandante". Não quero entrar no mérito de que a habilidade fundamental do governante da maior potência do mundo deva ser o uso da força, mas, se o Kerry discordava disso - como parecia indicar -, o coitado foi obrigado a entrar na dança. Foi esse, talvez, seu maior erro.

Na campanha falou-se e falou-se do herói de guerra que foi o democrata no Vietnã. Que ele comandou jangadas. Que ele era sim um comandante. Que ele era a resposta para uma "América Mais Forte" (A Stronger America), o slogan de sua campanha. Kerry se disfarçou com o radicalismo de Bush. Ele precisava ganhar os votos do cinturão conservador do sul e meio-oeste do país.

Mas aí Bush contratacou, ora-bolas. Essa imagem de comandante que Kerry planejou vender esbarrou na sua figura real, no seu melhor: o discurso de que a guerra foi um erro, de que os Estados Unidos necessitam ter uma posição conciliatória com o resto do mundo - tudo aquilo que fora daqui toda a gente está cansada de falar. Kerry ficou na coluna do meio e assim virou o flip-flop. O barulho do chinelo. Flip, de um lado, flop, de outro. Esse era o apelidinho que os aliados de Bush fizeram pegar.

A proposta de Bush acabou colando: Kerry muda de idéia muito fácil. E numa situação de perigo, você confiaria num cara, assim, digamos, que não é firme?

As eleições aqui não passaram pela questão moral da declaração de uma guerra, não foi um cala-a-boca como resposta para o mais rápido fim de uma política que levou milhares de meninos americanos para a lembrança de suas mães. Foi medo. Foi a ilusão do individualismo. Não importa nada, senão que minha casa e a minha família não sejam atacadas.

Perfeito para Bush: faturou em cima de uma prepotência disfarçada de preemptive atack. Mal para um dos berços da democracia: na terra da liberdade, só homens como Bush tem crédito para ser presidente.

Agora são mais quatro anos.

"God Bless the America"


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Para matar a curiosidade:

O sistema eleitoral dos Estados Unidos funciona de maneira diferente em cada estado. A América leva a risca o sentido de república federativa. Cada estado tem seus próprios candidatos a presidência, seu tipo de cedula eleitoral, e mesmo a forma como qual os votos vão ser distribuídos.

As eleições nos EUA são diretas, mas também indiretas. Funciona da seguinte maneira: cada estado tem um número determinado de pontos eleitorais, que são calculados a partir do número de sua população. Por exemplo, Nova York, populoso, vale 34 pontos eleitorais, Alaska, vale 3.

O sistema para calcular os votos é conhecido como winner-takes-all. O candidato mais votado em um estado leva todos os seus pontos. Esses pontos servem para o seguinte: eles é que dão o direito dos candidatos indicarem delegados para o Colégio Eleitoral, que no fim vai decidir a eleição. Quem chega a 270 tem a maioria no Colégio Eleitoral e, portanto, eleito.

Nem sempre, entretanto, o que tem mais pontos é o que recebeu mais votos no geral. Imagine por exemplo que Kerry levou os pontos de New York, mas com uma margem de diferença pequena em relação a George Bush. Agora imagine uma situação em que mais de 90% das pessoas de NY votaram em Kerry. Sobre os pontos eleitorais ele permaneceria na mesma, pois não faz diferença ganhar de 51% ou 99%. Mas em relação a número de votos, a diferença é enorme.

5.11.04

ENTREVISTA _ DJ ANA PAULA

POR TRÁS DA CENA _ dj ana paula
_ entrevista
_ Por Andre Garça

ELA ALCANÇOU O POSTO MAIS COBIÇADO DAS FESTAS CARIOCAS.



Imagine a cena. Há dois anos, a principal label party carioca, a X-Demente, tinha como DJ residente Dudu Marquez, uma barbie hetero. Parecia perfeito. Nessa época ninguém ousaria imaginar que uma mulher pudesse estar ocupando a residência da X, alguns meses depois. Muito menos que essa mulher fosse a DJ Ana Paula, que tocava nas festas de Rosane Amaral. A X-Demente é a principal festa carioca, reunindo milhares de pessoas a cada edição. Naturalmente que o posto de DJ residente da festa fosse cobiçado.

O som da Djéia muitas vezes foi alvo de duras críticas. Mas Ana Paula correu atrás, pesquisou e amadureceu seu set, destacando-se como DJ de tribal house no Rio.

No final de setembro, Ana Paula foi aplaudida na praia da Farme, na E.njoy the beach. Há uma semana, na edição paulista da X, Ana Paula fez um set impecável e elogiadíssimo na pista do novíssimo The Week. No dia seguinte já estava em Belo Horizonte para tocar no aniversário da 3 anos da Josefine, onde foi muito bem recebida. E amanhã, Ana Paula estará tocando na E.NJOY #02, a noite do Cena Carioca.

Fizemos algumas perguntinhas básicas pra ela... Confira abaixo:



[CC] Quando e como você começou sua carreira de DJ? Quais foram suas motivações?

Na verdade, essa profissão me escolheu. No meu primeiro ano como profissional recebi um convite do Memê (renomado DJ e produtor brasileiro) para fazer com ele uma participação em um programa de rádio chamado Dance Masters. Na época a rádio dava espaço para pouquíssimos DJs. Não era como hoje que você encontra vários na mesma emissora. Isso é uma prova de que a nossa profissão cresceu e que temos mais importância no mercado. Com o programa de rádio semanal eu fiquei conhecida do público mainstream (comercial) e trabalhei com eles durante boa parte da minha carreira. Até que em 2001 comecei a parceria com a produtora Rosane Amaral. Era o início de uma nova carreira, novas conquistas, começando do zero. Era mais um desafio na minha vida e essa foi minha grande motivação.



[CC] Quais suas referências musicais?

Sou DJ de caldeirão, tenho muitas referências; a maioria no house tribal americano. Mas os DJs europeus estão arrasando também!



[CC] Qual o melhor lugar pra tocar? Clubs ou festas?


Definitivamente onde mais gosto de tocar é na X-Demente. O público é extremamente exigente e profundo conhecedor de música. A energia que eu sinto tocando na X, nunca senti antes em toda minha vida. O público dá show! Queria que as pessoas tivessem a visão que eu tenho da cabine... é lindo demais! A X na The Week em São Paulo, por exemplo, foi incrível! Os paulistas me receberam muito bem.



[CC] Como voce lida com as críticas?

Não sou radical, aceito crítcas numa boa. Todos têm o direito de expressar suas opiniões. Nós que trabalhamos com entretenimento estamos sujeitos a isso todos os dias. Eu toco house tribal e meu som está amadurecendo, se você gosta de tribal, um dia você Vai gostar de mim.... Assim espero! Estou trabalhando para isso. (risos)



[CC] Como é ser DJ residente da X-Demente? Qual a projeção que isso traz?

O Fábio (Monteiro) criou uma lenda, a X vai existir para sempre. Várias gerações já passaram pela festa e várias outras ainda virão. Eu quero curtir muito esse momento e continuar trabalhando duro para estar no merecido posto de DJ residente. Tive meu trabalho reconhecido não só no Rio, como em outras partes do Brasil e as pessoas já me conhecem até lá fora.



[CC] Você acha que rola muita inveja no meio dos DJs? Ou são todos camaradas?

Rola competição como em qualquer ambiente de trabalho.



[CC] Você tocou no Dama, às quintas, e a noite não pegou. Você acha que houve preconceito em ouvir tribal no Dama?

O Dama é o templo dos modernos. Fiquei lisonjeada em ter mostrado o meu trabalho por lá. Tivemos algumas noites bem legais, sem falar nos afters que foram ótimos. Não sei se o problema foi o preconceito com o tribal ou foi o carioca que se habituou a sair de casa somente para aos sábados. Antigamente a noite do Rio era mais agitada. Hoje, as pessoas só saem aos sábados e, às vezes, as sextas; com isso, boas opções pararam de funcionar por falta de público. É uma pena, mas acredito que no verão as coisas vão melhorar.



[CC] Qual seu DJ preferido do Rio?

O Memê é um ótimo DJ de House!



[CC] Por que deixou a residência da R:evolution? E o visual novo? Muitas mudanças, não?

Estou vivendo uma nova fase na minha vida. E desejo muita sorte e sucesso a festa R:evolution. Tenho reciclado muitas coisas na minha vida... Por que não o visual? Mas também não mudou tanto assim, né?! (risos)



[CC] O que público pode esperar de seu set amanhã, na E.NJOY #02?

Vai ser um set animado, high energy, com muito ritmo! Vai ser o meu som house tribal com um tempero diferente; especialmente feito para a E.njoy. Mas só estando lá pra entender!



[CC] Quer dar um recado pra galera?

Vocês são a minha festa! Quero agradecer todo carinho e reconhecimento que tenho recebido por parte do público. Eu amo vocês!