RAZÕES PARA VIVER
entrevista_
Por Junior Vasquez | Editado por Gregory T. Ângelo | Tradução: Rogério Simões
Por Junior Vasquez | Editado por Gregory T. Ângelo | Tradução: Rogério Simões

Após polêmica entrevista do DJ, que agora restabelece a sua popularidade nas pistas de Nova Iorque e da Europa, Junior Vasquez retorna ao seu estilo, que o fez o DJ mais consagrado de todos os tempos, numa noite carioca que promete ser bem diferente das suas gigs anteriores no Brasil...
Confira entrevista recente do DJ
Ele pode ser legendário, mas ele também é humano. No final de semana do Gay Pride em Nova Iorque, Junior Vasquez pisou no DJ booth do club Spirit acompanhado pela DJ - e amiga - Tracy Young para tocar no mais importante Gay Pride de sua carreira. Numa entrevista bombástica, ele mesmo explica os motivos com suas próprias palavras:
"Esse será o primeiro Gay Pride que tocarei sóbrio em seis anos."
- Tocar no Gay Pride de Nova Iorque é sempre especial para mim. E esse ano
será ainda mais especial. Agora estou limpo e eu me dou o direito de estar sóbrio da mesma maneira que eu me dei o direito de me drogar pelos últimos cinco anos da minha vida.
Antes de me drogar com cristal eu nunca tive problema com nenhuma substância. Drogas nunca representaram nada para mim - eu nem mesmo bebo! Mas Tina (um dos nomes de mercado da droga crystal meth) acabou cruzando o meu caminho há um tempo atrás no dias do Palladium. Alguém discretamente me ofereceu e disse: "Prove um pouquinho disso aqui. É melhor do que 10 xícaras de café!" - É uma velha história que se repete.
Eu não me drogava com cristal porque queria transar. Naquela época eu não necessitava de mais euforia em minha vida. Quero dizer, convenhamos, eu já era o DJ mais popular na cidade de Nova Iorque. Eu me drogava com cristal para me manter acordado e atento. Pelo menos, essa era assim que eu justificava a mim mesmo. Naquele momento eu não percebi, mas a razão real que me levava a Tina era baseada no fato que eu odiava o meu trabalho. Odiava!
Eu estava cansado da longa jornada noturna. Para ser completamente honesto, eu estava cansado da atmosfera e do ambiente em que trabalhava. No entanto, durante cinco anos, eu não fui capaz de admitir para mim mesmo; razão pela qual me coloquei em um coma ambulante na tentativa de sentir algum prazer com aquilo que eu trabalhava. Não funcionou.
Então, há cinco meses atrás, eu tive uma convulsão. Uma convulsão horrível. Aconteceu depois que eu toquei numa noite em Austin, Texas. Eu mordi a minha língua e tudo mais. A minha vida chegou quase ao final e aquela noite de terror poderia ter terminado muito pior do que terminou. No entanto, eu acho que me confrontando com a morte olhando na minha cara e recebendo uma segunda chance, foi a única maneira de mudar as coisas na minha vida. Precisou ocorrer um evento tão dramático para que eu pudesse rever minha vida. Para me fazer estudar os cinco anos que se passaram e ver quanto desperdício e infelicidade que aquele lixo me trouxe.
Meu pai morreu em 1999 e a minha mãe acabou falecendo rapidamente depois dele, mas por causa do cristal eu nem mesmo me lembro do funeral de nenhum dos dois. A minha irmã morreu recentemente também. Ela era um ano mais velha que eu e eu a amava mais do que qualquer coisa nessa vida. Eu ainda me recordo dela, mas uma parte de mim questiona ou, para ser bem sincero, sabe que se eu continuasse a me drogar eu perderia as preciosas recordações dela também.
Eu quero ver cores novamente. Eu quero ouvir batidas novamente. Eu precisava amar a música novamente. Agora que estou sóbrio e limpo, eu posso.
Cristal existe desde muito tempo atrás, mas só agora que conseguimos ver o quanto é perigoso e destrutivo. Tina te coloca pra baixo e te machuca; eu não podia acreditar em tudo passei. É uma "bitch" ofensiva e maliciosa - e levou cinco anos para eu me lembrar que existe uma única "bitch" na cabine do DJ: Eu mesmo.
Eu não estou tentando pregar o que está certo ou errado. Aquilo que cada um escolhe fazer com a sua própria vida só diz respeito àquela pessoa mesmo. Eu concordo plenamente com isso. Eu cheguei à conclusão de que a única maneira de sobreviver e continuar no topo é estar sóbrio e limpo. É algo que faço para mim mesmo. Eu tenho fãs maravilhosos, mas eu não fiz por eles - e certamente não fiz para acalmar aqueles que estão contra mim. Me ame ou me odeie, não me importo mais. Eu não tenho que provar nada mais pra ninguém. No entanto, eu refleti e cheguei à conclusão de que se eu subisse no podium e admitisse que Tina foi um problema para mim, outras pessoas fariam o mesmo.
Eu me sinto completamente diferente hoje. Mais uma vez eu amo a música, eu amo imensamente. Eu amo o fato de que Tracy Young abrirá o meu set no Gay Pride e de que haverá um homem e uma mulher gay na cabine de DJs aquela noite.
Junior Vasquez toca no próximo sábado, 1308, na Le Boy, em mais uma edição da Xtravaganza.
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