23.4.04

DOIS PESOS, DUAS MEDIDAS

CONEXÃO N.Y.
Paulo Grillo

DOIS PESOS, DUAS MEDIDAS



Quando confirmei minha viagem para os Estados Unidos me lembrei de uma polemica que envolveu o país e o Brasil. Era aquela historia do fichamento dos americanos que chegavam ao Brasil. Uma resposta do nosso país a política que nossos vizinhos praticam com os cidadãos brasileiros e outras dezenas de paises. Lembro-me que na época muita gente aprovou a decisão do governo brasileiro, mas muitas outras diziam que estávamos espantando os turistas americanos. Nas reportagens da TV eram eles que apareciam reclamando ¿ a polêmica estava estabelecida. Só não me lembro de ter visto uma reportagem mostrando o outro lado: os brasileiros sendo fichados nas alfândegas americanas. Foi então o que resolvi fazer para abrir esta coluna. Ver como funcionava este outro lado. O resultado não foi nada agradável.

Quando cheguei ao aeroporto de Miami, de onde pegaria uma conexão para Nova York, tive que passar pela imigração e pela alfândega. Na imigração, de cara, vi uma diferença. Havia filas separadas para cidadãos americanos e de outras nacionalidades. Para os estrangeiros havia sete guichês funcionando, mas mesmo assim era demorado porque ate ser atendido se passaram 30 minutos. Lembro-me dos americanos reclamando que as filas para o fichamento no Brasil demoravam demais, mas lá funciona do mesmo jeito.

Quando apresentei meus documentos (passaporte e fichas de imigração e alfândega preenchidas), o policial de fronteira ficou me olhando, olhando para o passaporte, digitando uma serie de coisas, olhando para mim de novo. Ele me perguntou o que eu ia fazer nos EUA e eu respondi. Foi então que eu tirei as impressões digitais (apenas dos dedos indicadores, em uma maquina) e olhei para a camerazinha para tirar a foto. Feito isso ele ficou mais um cinco minutos analisando meu passaporte e minha ficha de um jeito muito estranho. Já tinha ouvido historias de brasileiros que eram interrogados, mal-tratados nas fronteiras de lá e por isso fiquei com medo. Foi ai que eu gelei. Ele segurou meu passaporte e fichas e me mandou encostar numa parede a minha frente. Não entendendo nada, lá fui eu, enquanto um outro policial veio, pegou meu passaporte e me mandou segui-lo. Adivinhem para onde me levaram? Para a famosa salinha azul, um lugar onde eles interrogam as pessoas que consideram suspeitas. E eu, super coagido, no meio de umas pessoas na mesma situação, com a cara péssima.

Tinha uma mulher que estava sendo interrogada. O policial queria saber tudo dela. Aonde ia, com quanto de grana estava, quanto tempo ia ficar, porque ia, tudo, tudo, tudo. Eram dois policiais e eles falavam alto, entre si. Fiquei encucado porque varias pessoas que estavam na minha frente na fila não tiveram que ir para essa salinha, queria saber o que estava acontecendo, mas, imagina, não tinha coragem de tirar satisfação com os policias porque sabe-se lá o que eles podiam fazer comigo. Me senti acuado e me lembrei que se fosse lá no Brasil, eles iam denunciar, fazer o escambal para mostrar que um americano era maltratado. Agora, imaginem que quando me chamaram, o policial simplesmente carimbou meu passaporte, minhas fichas e me mandou seguir. Tudo aquilo era pra nada. Ninguém me explicou nada. E aquilo acontece com muitos estrangeiros, porque a sala não estava vazia. Tinha ate uma família com dois filhos pequenos. Tinha ate gente dormindo, tamanha devia ser a espera. Agora imaginem a mesma cena em um aeroporto brasileiro, envolvendo um americano e com o mesmo desfecho? Aposto que até mesmo isso podia ser motivo para um pedido de desculpas formal do nosso governo para eles.

Sem duvida, a impressão final é que o governo americano pratica uma política de dois pesos e duas medidas.

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