O ESTRANHO MUNDO DE BITTENK
Milton Bittencourt
O hype está morto. Viva o hype?
Tá combinado, o hype agora é festa em motel. Não tem nada mais moderno, descolado e exclusivo para se fazer hoje em dia. Tudo explicado nas revistas, jornais e, por enquanto, fotologs. As festas em motel redimem o verão, que nesse ano passou sem maiores novidades. Ok, elas já estavam rolando tem um tempo, mas decolaram mesmo (na mídia) só agora. E pronto, o verão está salvo.
No Rio existe uma cultura em cima do hype que é muito forte. E no verão isso fica mais evidente. Todo verão TEM que ter uma novidade. E surgem coisas bacanas, lógico, produzidas para este fim ou garimpadas, tem os dois. O gosto que fica é assim, tipo uma fábrica de hypes. Os jornalistas doidos pra captar a nova sensação, primeiro aparecem reportagens soltas, depois todos escrevendo sobre a mesma coisa, e pronto: hypado! Todo mundo fica sabendo da nova mania do verão, e todo mundo TEM que experimentar a nova mania do verão. E quem já conhecia sobra. Porque encheu demais, porque ficou comercial demais, porque virou moda. Lógico que, no começo, ainda dá pra fazer um ar blazé para os iniciantes, tipo "já faço isso há tempos", o que tem lá a sua graça (tá querendo enganar quem?), só que depois fica muito nada-a-ver.
Se fosse só no verão tava desculpado. Mas acontece o ano todo. E, às vezes nem são coisas tão bacanas. Ou que não estão prontas o suficiente. Mas que, mesmo assim, são elevadas à condição de hype, sem maiores análises. Outro dia li uma reportagem sobre uma galeria lá de Copacabana sendo redescoberta, mais ou menos "onde novas grifes descoladas convivem com lojas de surf". Uma nova tendência? Um lugar bacana pra dar uma volta? A reportagem sugeria isso, mas... Quem foi dar uma conferida, viu que as duas lojas da reportagem eram as únicas que não eram de surf na tal galeria. E só.
Outra vez foi uma reportagem sobre a cena electro no Rio. Eu adoro electro: anos 80, meio punk, vocais, sintetizadores, 100% DJ Hell e 100% Larry Tee. Conheço tem um tempão, bem antes da Miss Kittin aparecer por aqui, ok? Se o Rio tem uma cena electro? Minha opnião é que toca-se o estilo, já vieram grandes nomes aqui, é legal quando tem e ponto. Movimento, cena, não. Parece que a coisa tá mudando, mas não acho que possa ser considerada uma cena ainda. Pois a reportagem de meses atrás (e beeeem depois do primeiro sopro com a Miss Kittin) pintava o Rio como a capital do gênero. Na verdade, o próprio texto se contradizia, se você espremesse, reparava que saía pouca coisa com substância dali, os exemplos eram mais "universais", não cariocas. Electro mesmo, é São Paulo, todo mundo saca, não adianta fazer bico. E quem conhece a cena de Belo Horizonte (sabia que o Spark está sempre por lá?) sabe que a coisa aqui podia ficar bem mais interessante.
E daí vem meu raciocínio. Será que o electro no Rio ficou sendo só mais um som, ao invés de ser um movimento, porque foi hypado às massas antes do tempo? Será que podia ter sido cozinhado melhor no underground?
Informação é bom, lógico. E as coisas mais bacanas e criativas aparecem primeiro é no underground mesmo. Mas precisam de tempo para migrar para a cena comercial. Para se consolidarem, terem sua história, um sentido. Porque, depois de divulgada e assimilada, vira objeto de consumo mesmo. Sem concessões e em larga escala. Exemplos? O Fotolog já perdeu boa parte da graça tem tempos (o meu ainda sobrevive), no meio de fotos de amigas no colégio e a mauriçada "bombando na night". E o pessoal do electro bem sabe que, quando (se) patricinhas e pitboys aparecerem por aí no estilo anos 80, não vão ter a menor idéia do porquê de estarem se vestindo assim. E bem sabe também que, quando isso acontecer, já é hora de esvaziar a cena.
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